Dublin.
4h15 da manhã de sexta para sábado.
Cortei caminho por uma rua escura e deserta.
Andava à passos largos.
Uma adolescente caminhava logo à frente.
Devagar.
Teclava no celular.
Um iPhone 6, acho.
Olhou cuidadosamente para trás.
Por cima do ombro.
Percebeu minha presença.
Desacelerei o passo para dar distância.
Não queria que ela ficasse preocupada.
Lembrei da minha irmã.
Que contou que, para mulher, essas situações são desesperadoras.
Do outro lado da rua.
Na calçada.
Uma outra adolescente vinha subindo.
Passou por nós.
Atravessou para nossa calçada.
De repente começou a correr.
Em silêncio.
Pisando com cuidado.
Eu não havia percebido.
Ela passou por mim.
Me assustei.
Chegou por trás da menina.
Gritou chacoalhando o ombro dela.
Daquela menina que eu não queria assustar.
Quase gritei: – Ô, não faz isso!
Mas também a assustaria.
Por segundos fiquei com medo por ela também.
Pensei que ela pudesse achar que seria eu.
Sei lá.
O susto quase não surtiu efeito nela.
Foi ofuscado pela alegria em encontrar a amiga.
Se abraçaram.
Conversaram paradas por poucos segundos.
Foram para algum lugar juntas.
Foi aí que eu percebi que o medo em andar sozinha na rua, talvez nunca tenha passado pela cabeça dela.
Só minha cabeça, de brasileiro.